sexta-feira, 22 de abril de 2011


'' Pára, mas pára mesmo. Ou vais obrigar-me a gritar que tudo em ti me irrita ao mais ínfimo ponto da minha consciência? Acredites ou não, esses teus olhos já foram um encanto para mim, já desejei milhões de vezes tocar nas tuas mãos, abraçar-te e segredar-te “amo-te”. Mas não agora. Cruzei os meus braços, encostei-me á parede, cerrei os lábios, e olhei em frente, mostrei-te o quão zangada estou, por isso, pára. Eu amei-te, mas não és o homem da minha vida. Por isso, pára, não fales, não olhes para mim, pára de fingir que estás preocupado comigo, porque tudo isso me irrita, como e porque – não sei, muito honestamente.
PÁRA. és mesmo irritante, e eu estou farta de ti. Eu sou feliz, e estou farta de o repetir centenas de vezes ás pessoas que pensam que ainda me afectas, que pensam que a nossa história não tem um fim (…) porque eu sou feliz, assim
Agora não voltes, aprendi a viver sem ti, aprendi a levantar a cabeça, juntei todos os pedaços que rasgas-te em mim e sou uma nova rapariguinha, com uma vida pela frente, que não vai viver presa ao passado, presa a ti.

Adeus, mas de vez. ''

sábado, 9 de abril de 2011

A coragem de seres só



'' Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o actual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estóica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz. ''

De Agostinho da Silva